INGRESSO
NO ENSINO SUPERIOR: EXPECTATIVAS, FRUSTRAÇÕES, DIFICULDADES E REALIDADE
EDUCACIONAL
*Emiliana Santos Guimarães
RESUMO: O
presente trabalho tem como finalidade analisar, compreender as dificuldades e a
realidade educacional do ingresso no ensino superior. Tendo em vista que cada
vez mais ocorre uma demanda social, alguns estudantes ingressam no ensino
superior com perspectivas de melhorias no aspecto de vida após obterem sua
formação acadêmica. Porém o estudante já passa por dificuldades no momento do
seu ingresso, dificuldades tais como, distância para se deslocar para a
universidade pois em algumas cidades não se tem o ensino superior; falta de
informação após concluir o ensino médio; concorrência pois as vagas em
universidades seja particular ou pública são limitadas; formação proveniente do
ensino médio e da realidade educacional com base de conhecimentos prévios
adequada para o ingresso e problemas com programas de financiamento tendo em
vista que nem todos tem condições de custear seus estudos, alguns não conseguem
bolas e nem o ingresso em uma rede pública.
PALAVRAS-CHAVE: Ingresso no ensino
superior; Estudantes; Aspectos Subjetivos; Dificuldades; Primeiro ano;
Adaptação; Educação; Cultura; Sistema Educacional; Fundo de Financiamento
Estudantil.
De acordo com pesquisas
feitas através da Faculdade Ages por meio do Projeto Integrador, alguns estudantes
ingressam no ensino superior com perspectivas de
que consigam uma melhora nos aspectos relativos a qualidade da vida após
adquirirem sua formação acadêmica. Porém, no ingresso e posteriormente os alunos são
cercados por dificuldades. Nesse contexto, o primeiro ano para o ingressante é
o período mais conturbado de sua formação acadêmica, quando o aluno passa por
um processo de adaptação a esse novo contexto no qual está inserido, passando a
vivenciar novas experiências e sentir as consequências do aspecto subjetivo
nesse processo de adaptação.
Durante esse período de
atribulações, os estudantes relatam frequentemente que as principais
dificuldades para o ingresso são o deslocamento e a distância para as
instituições, tendo em vista que em muitas cidades não se tem instituições de
ensino superior; a concorrência para ingressar devido as vagas serem limitadas tanto na
rede pública como também na privada, a falta de informação proveniente do
ensino médio sobre as possíveis formas de ingresso, os estudantes que pretendem
ingressar no ensino superior acabam tendo dificuldades pela falta não apenas de
informações, como também a formação de qualidade de sua base de conhecimentos
prévios, proveniente da cultura e do sistema educacional brasileiro.
Fator importante é que
alguns estudantes para ingressarem no ensino superior dependem do auxílio de
algum programa social do governo federal. Um dos programas de auxílio bastante
utilizado é o Fundo de Financiamento
Estudantil (FIES). No entanto, houve no
ano de 2015 uma série de mudanças que dificultaram sua contratação e
aditamento. Isso acaba por aumentar a insegurança do estudante com relação a
essa nova realidade, pois eles dependem desses programas para manterem-se
estudando, devido ao fato de não possuírem condições financeiras suficientes
para custear seus estudos.
O primeiro contato do aluno
com o universo acadêmico é cercado por sentimentos conflituosos causados pelas
dificuldades encontradas por ele no período inicial da faculdade. Durante esse
período, o aluno passar por um processo de adaptação ao novo contexto que está
inserido, no qual ele encontra diversas dificuldades para sua permanência. Isto
é, retratado bem no livro A Condição de Estudante - A entrada na vida
universitária de Alain Coulon.
“Hoje, o problema não é entrar na
universidade, mas continuar nela. O crescimento da demanda social por formação
superior e das possibilidades de acolhimento” (2008, p.31)
O problema hoje não está
somente no ingresso na universidade, mas em sua permanecia nela, e isso se dá
pelas dificuldades já relatadas anteriormente. A busca por uma graduação ocorre
devido a demanda social que cada vez mais demostra a necessidade da mão de obra
qualificada, é importante ressaltar que essa qualificação não é apenas buscada
na graduação, é procurada também por meio de cursos profissionalizantes, os
chamados “cursinhos”.
Aprender o ofício
de estudante significa que é necessário aprender a se tornar um deles para não
ser eliminado ou auto-eliminar-se (Sic) porque se continuou como um estrangeiro
nesse mundo novo. A entrada na vida universitária é como uma passagem: é necessário
passar do estatuto do aluno ao de estudante (COULON, 2008, p.31)
Dessa forma, fica evidente a necessidade que o
aluno aprenda qual o ofício de estudante. Assim, não basta ter a denominação de
aluno é necessário que seja feita uma transição de aluno para estudante, essa
transição é basicamente quebrar a tese de aluno com a condição apenas de
ouvinte e reprodutor do que escutou ou leu, para a concepção de estudante em
que o condicionamento baseia-se em aprendizagem desenvolvedora de um olhar
crítico acerca do que leu ou ouviu. Com isso torna-se assim um indivíduo capaz
de problematizar as situações do cotidiano em que vivencia e criar possíveis
hipóteses de soluções para os problemas encontrados.
Scott Turow em seu livro o
primeiro ano - como se faz um advogado narra as angústias, as dificuldades, os
desafios e os triunfos que marcam seu primeiro ano na faculdade.
“É evidente que uma das coisas que mais me
fizeram sentir mais desorientado no início foi o fato de mal entender o que lia
ou ouvia “(2008, p.44)
Um dos Fatores que dificulta
bastante no início, é, sem dúvida, a falta de compreensão do aluno. Turow
evidencia isso, destacando o fato de não compreender o que lia ou ouvia,
geralmente isso é por conta da base de conhecimentos prévios que o aluno carrega
ao ingressar na universidade ou a complexidade e dificuldade dos textos que
eventualmente os estudantes não estão habituados a ler durante o ensino
fundamental e médio.
O sentimento
despertado por tudo era algo próximo do pânico, uma sensação de incerteza
intensa e profunda, que me dominou – e creio que à maioria dos meus colegas –
muitas vezes durante aquela primeira semana e por mais algum tempo depois. Em
muitas ocasiões, descobri que não estava compreendendo nada, e que só percebia
quando a aula já ia pela metade. Também não podia entender como os outros
conseguiam chegar a resposta certa. Talvez fossem todos gênios. Talvez eu fosse
o mais estúpido ali (TUROW, Scott. 2008, p.44)
Assim, torna-se notório a
existência do pânico que domina no início e nas primeiras semanas. Nesse
contexto, alguns alunos já ingressam com uma bagagem cultural e intelectual “rica”
com uma base de conhecimentos prévios elevada ou suficiente para o ingresso no
nível superior, resultando assim, um “brilho” maior que os demais colegas de
classe que iniciam sem uma base de conhecimentos prévios similar aos tidos como
“gênios”. Esta diferença pode causar um sentimento de indiferença e desânimo
para o que ingressou com um arcabouço teórico defasado.
Para compreender a
dificuldade de se ter estudantes com base de conhecimentos prévios similares
provenientes do seu ensino fundamental e médio é necessário compreender a educação
e o sistema educacional Brasileiro. A
priori educação em si é o desenvolvimento do indivíduo, corpo, espírito, mente,
conhecimento, expressão, ou seja tudo em benéfico do próprio indivíduo e sua
autonomia em sua integração construtiva com para toda a sociedade.
A educação forma a personalidade do indivíduo
médio e o prepara para viver a cultura: é pela educação que a gênese da cultura
se opera no indivíduo. Podese (Sic) descrever a cultura mostrando como o
indivíduo duo a assimila e como nele se constitui, à medida que ele vai
assimilando. Isto porque a educação é, ao mesmo tempo, uma instituição que o
indivíduo encontra e o meio que ele tem para encontrar todas as instituições.
(BRANDÃO, Carlos Rodrigues. 2012, p.23)
Dessa maneira, o que precede
da educação formal é a relevância do processo educativo de fato que em si é
empírico, natural e espontâneo dando como procedência o preparo para que o
indivíduo possa viver sua cultura nacional. Stuart Hall em seu livro a identidade
cultura na pós-modernidade escreve sobre a contribuição da cultura nacional.
A Formação de uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de
alfabetização universais, generalizou uma única língua vernácula como o meio
dominante de comunicação em toda a nação, criou uma cultura homogênea e manteve
instituições culturais nacionais, como, por exemplo, um sistema educacional
nacional[...] (2006, p.p. 49,50)
Desse modo, o sistema nacional
educacional brasileiro ocorre por meio de uma união dos Estados, do Distrito
Federal e dos municípios. As leis que regem o sistema educacional são: A
Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), instituída pela lei n° 9.394 de 20 de Dezembro de 1996.
A
atual estrutura do sistema educacional regular no Brasil consiste na educação
básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio – e a educação
superior. Os municípios têm a função educacional de atuar no ensino fundamental
e na educação infantil; já os Estados e o Distrito Federal são responsáveis
pelo ensino fundamental e ensino médio. E o governo federal exerce uma função
redistributiva e supletiva na educação, devendo prestar assistência técnica e
financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como deve
organizar o sistema de educação superior no país (Portal Educação, 2013)
A estrutura desse sistema tem
como meta a democratização e universalização do conhecimento básico, que possa
oferecer cuidado com a escolarização, com um caráter sistemático e intencional
que ofereça uma atenção para o desenvolvimento intelectual. No entanto, essa
estrutura apresenta problemas. Prova disso, é que o governo do Brasil centrou
seus investimentos no ensino superior, e com isso negligenciou assistência ao
fundamental e médio, em que sem dúvida alguma, esses deveriam ser a priorizados
pelo governo por se tratar do primeiro contado do indivíduo com o conhecimento
que formará sua base de conhecimentos futuros, para um possível ingresso em uma
universidade.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso
da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da
Constituição, e considerando a meta de expansão da oferta de educação superior
constante do item 4.3.1 do Plano Nacional de Educação, instituído pela Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001.
§ 1o O Programa tem como meta global a elevação
gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para
noventa por cento e da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por
professor para dezoito, ao final de cinco anos, a contar do início de cada
plano (Presidência da República, 2007)
Em 2007 o governo estabeleceu
uma meta que tinha em vista a aprovação para o ingresso nas universidades estipulando
um percentual de 90% dos estudantes concludentes do ensino médio, dois anos
depois o governo admitiu que seu “plano” não tenha dado certo e estava
comprometendo a qualidade da educação superior.
De acordo com um estudo
promovido pelo Banco Mundial em 26 de outubro de 2006, a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), publicou um relatório
em que nele o Brasil estava na 72º posição dentre 125 países. Em 2014 a
Organização para a cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) faz um
relatório em que no ranking de 36 países o Brasil ocupa a penúltima colocação
na frente apenas do México.
É importante ressaltar, que diante dessa
situação o estudante não deve ser omisso, incumbindo-lhe diante de um fato como
esse sair em defesa do seus direitos, cobrando das autoridades melhorias no
sistema educacional brasileiro. Isso significa dizer que ele deve lutar pelo
seu direito, pois o direito é além de tudo uma ideia pratica e só pode ser
adquirido através da luta.
“O direito é uma idéia
prática, isto é, designa um fim, e, como toda a idéia de tendência, é
essencialmente dupla, porque contém em si uma antítese, o fim e o meio.”
(Ihering, 2009, p. 22)
O Governo Federal disponibiliza auxílios de
financiamentos para os estudantes que pretendem ingressar em uma universidade
particular, um dos auxílios mais utilizados para esse ingresso é o Fundo de
Financiamento Estudantil (FIES), toda via em dezembro de 2014 o FIES passou por
implantações de novas regras para contratação, como por exemplo: alunos que
obtiveram no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) média inferior a 450 pontos
não poderá fazer a contratação do FIES o mesmo ocorre para os que tenha zerado
a redação.
Em meio as dificuldades para
contratação do financiamento destacam-se também o fato de que alguns estudantes
que preenchem todos os requisitos para a contratação não conseguiram contratar,
devido aos problemas que o site do FIES apresentou devido a uma suposta demanda
no sistema. Devido a estes fatos alunos que preenchiam os requisitos para a
contratação não conseguiram contratar, os que não tem condições de custear
acabaram tendo que cancelar sua matricula nas universidades ocorrendo assim uma
evasão.
De acordo com o Ministro da
Educação Renato Janine Ribeiro no 1º semestre de 2014 foram fechados cerca de
480 mil novos contratos, no mesmo período de 2015 apenas 252.442 contratações
foram feitas. (MEC/FNDE)
Concluo, que o atual governo
está preocupado com números e não com qualidade, isso fica evidente na meta
estabelecida pelo governo que visou apenas aumentar o número de ingressantes
nas universidades e não qualidade, por conta disso, dois anos depois como já
era de se prever o plano do governo não deu certo pois estava comprometendo a
qualidade do ensino superior, ou seja se houve esse comprometimento da
qualidade do ensino superior significa que os estudantes ingressaram e ainda
ingressam sem o conhecimento adequado.
Apesar das implantações de
novas regras em um dos programas mais utilizados para estudantes que não tem
condições de custear seus estudos, os estudantes ainda ingressam sem uma base
de educação adequada. Esse e os demais problemas aqui relatados só poderá serem
resolvidos quando a sociedade cobrar o que lhe é de direito, uma educação de
qualidade e o governo tratar do problema do ensino fundamental ao médio para
que ao ingressar na universidade o aluno não passe por dificuldades por conta
da falta de conhecimento.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
COULON, Alain. A condição de estudante: a entrada na vida universitária / Alain Coulon:
tradução de: Georgina Gonçalves dos Santos, Sônia Maria Rocha Sampaio. –
Salvador: EDUFBA, 2008.
TUROW, Scott. O primeiro ano – como se faz
um advogado/ Scott Turow; tradução de A. B. Pinheiro de Lemos. – 9ª ed. –
Rio de Janeiro: Record, 2008.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação popular/ Carlos
Rodrigues Brandão – São Paulo: Brasiliense, 2012. 3ª reimpr. da 1ª. ed. de
2006.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós – Modernidade/ tradução Tomaz Tadeu da
Silva, Guacira Lopez Louro – 11. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
IHERING, Rudolf von. A Luta pelo direito: a obra prima de
cada autor. 1° ed., Martin clarete,
2009.
IHERING, Rudolf Von. A luta pelo Direito.
Versão para eBook.Brasil.com. por Marcos Paulo R. Bassalo. Março 2009.
Educação Universal—Brasil 2. Educação
Básica—Brasil 3. Desenvolvimento Educacional—Brasil 3. Avaliação Educacional—Brasil
4. Indicadores Educacionais—Brasil 5. Estatística Educacional--Brasil
http://veja.abril.com.br/blog/impavido-colosso/em-ranking-da-educacao-com-36-paises-brasil-fica-em-penultimo/