segunda-feira, 7 de setembro de 2015

INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR: EXPECTATIVAS, FRUSTRAÇÕES, DIFICULDADES E REALIDADE EDUCACIONAL

*Emiliana Santos Guimarães
RESUMO: O presente trabalho tem como finalidade analisar, compreender as dificuldades e a realidade educacional do ingresso no ensino superior. Tendo em vista que cada vez mais ocorre uma demanda social, alguns estudantes ingressam no ensino superior com perspectivas de melhorias no aspecto de vida após obterem sua formação acadêmica. Porém o estudante já passa por dificuldades no momento do seu ingresso, dificuldades tais como, distância para se deslocar para a universidade pois em algumas cidades não se tem o ensino superior; falta de informação após concluir o ensino médio; concorrência pois as vagas em universidades seja particular ou pública são limitadas; formação proveniente do ensino médio e da realidade educacional com base de conhecimentos prévios adequada para o ingresso e problemas com programas de financiamento tendo em vista que nem todos tem condições de custear seus estudos, alguns não conseguem bolas e nem o ingresso em uma rede pública.

PALAVRAS-CHAVE: Ingresso no ensino superior; Estudantes; Aspectos Subjetivos; Dificuldades; Primeiro ano; Adaptação; Educação; Cultura; Sistema Educacional; Fundo de Financiamento Estudantil.

INTRODUÇÃO:
De acordo com pesquisas feitas através da Faculdade Ages por meio do Projeto Integrador, alguns estudantes ingressam no ensino superior com perspectivas de que consigam uma melhora nos aspectos relativos a qualidade da vida após adquirirem sua formação acadêmica . Porém, no ingresso e posteriormente os alunos são cercados por dificuldades. Nesse contexto, o primeiro ano para o ingressante é o período mais conturbado de sua formação acadêmica, quando o aluno passa por um processo de adaptação a esse novo contexto no qual está inserido, passando a vivenciar novas experiências e sentir as consequências do aspecto subjetivo nesse processo de adaptação.
Durante esse período de atribulações, os estudantes relatam frequentemente que as principais dificuldades para o ingresso são o deslocamento e a distância para as instituições, tendo em vista que em muitas cidades não se tem instituições de ensino superior; a concorrência para ingressar devido as vagas serem limitadas tanto na rede pública como também na privada, a falta de informação proveniente do ensino médio sobre as possíveis formas de ingresso, os estudantes que pretendem ingressar no ensino superior acabam tendo dificuldades pela falta não apenas de informações, como também a formação de qualidade de sua base de conhecimentos prévios, proveniente da cultura e do sistema educacional brasileiro.
Fator importante é que alguns estudantes para ingressarem no ensino superior dependem do auxílio de algum programa social do governo federal. Um dos programas de auxílio bastante utilizado é o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). No entanto, houve no ano de 2015 uma série de mudanças que dificultaram sua contratação e aditamento. Isso acaba por aumentar a insegurança do estudante com relação a essa nova realidade, pois eles dependem desses programas para manterem-se estudando, devido ao fato de não possuírem condições financeiras suficientes para custear seus estudos.

FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA:
O primeiro contato do aluno com o universo acadêmico é cercado por sentimentos conflituosos causados pelas dificuldades encontradas por ele no período inicial da faculdade. Durante esse período, o aluno passar por um processo de adaptação ao novo contexto que está inserido, no qual ele encontra diversas dificuldades para sua permanência. Isto é, retratado bem no livro A Condição de Estudante - A entrada na vida universitária de Alain Coulon.
“Hoje, o problema não é entrar na universidade, mas continuar nela. O crescimento da demanda social por formação superior e das possibilidades de acolhimento” (2008, p.31)
O problema hoje não está somente no ingresso na universidade, mas em sua permanecia nela, e isso se dá pelas dificuldades já relatadas anteriormente. A busca por uma graduação ocorre devido a demanda social que cada vez mais demostra a necessidade da mão de obra qualificada, é importante ressaltar que essa qualificação não é apenas buscada na graduação, é procurada também por meio de cursos profissionalizantes, os chamados “cursinhos”.
Aprender o ofício de estudante significa que é necessário aprender a se tornar um deles para não ser eliminado ou auto-eliminar-se (Sic) porque se continuou como um estrangeiro nesse mundo novo. A entrada na vida universitária é como uma passagem: é necessário passar do estatuto do aluno ao de estudante (COULON, 2008, p.31)
 Dessa forma, fica evidente a necessidade que o aluno aprenda qual o ofício de estudante. Assim, não basta ter a denominação de aluno é necessário que seja feita uma transição de aluno para estudante, essa transição é basicamente quebrar a tese de aluno com a condição apenas de ouvinte e reprodutor do que escutou ou leu, para a concepção de estudante em que o condicionamento baseia-se em aprendizagem desenvolvedora de um olhar crítico acerca do que leu ou ouviu. Com isso torna-se assim um indivíduo capaz de problematizar as situações do cotidiano em que vivencia e criar possíveis hipóteses de soluções para os problemas encontrados.
Scott Turow em seu livro o primeiro ano - como se faz um advogado narra as angústias, as dificuldades, os desafios e os triunfos que marcam seu primeiro ano na faculdade.
“É evidente que uma das coisas que mais me fizeram sentir mais desorientado no início foi o fato de mal entender o que lia ou ouvia “(2008, p.44)
Um dos Fatores que dificulta bastante no início, é, sem dúvida, a falta de compreensão do aluno. Turow evidencia isso, destacando o fato de não compreender o que lia ou ouvia, geralmente isso é por conta da base de conhecimentos prévios que o aluno carrega ao ingressar na universidade ou a complexidade e dificuldade dos textos que eventualmente os estudantes não estão habituados a ler durante o ensino fundamental e médio.
O sentimento despertado por tudo era algo próximo do pânico, uma sensação de incerteza intensa e profunda, que me dominou – e creio que à maioria dos meus colegas – muitas vezes durante aquela primeira semana e por mais algum tempo depois. Em muitas ocasiões, descobri que não estava compreendendo nada, e que só percebia quando a aula já ia pela metade. Também não podia entender como os outros conseguiam chegar a resposta certa. Talvez fossem todos gênios. Talvez eu fosse o mais estúpido ali (TUROW, Scott. 2008, p.44)
Assim, torna-se notório a existência do pânico que domina no início e nas primeiras semanas. Nesse contexto, alguns alunos já ingressam com uma bagagem cultural e intelectual “rica” com uma base de conhecimentos prévios elevada ou suficiente para o ingresso no nível superior, resultando assim, um “brilho” maior que os demais colegas de classe que iniciam sem uma base de conhecimentos prévios similar aos tidos como “gênios”. Esta diferença pode causar um sentimento de indiferença e desânimo para o que ingressou com um arcabouço teórico defasado.
Para compreender a dificuldade de se ter estudantes com base de conhecimentos prévios similares provenientes do seu ensino fundamental e médio é necessário compreender a educação e o sistema educacional Brasileiro.  A priori educação em si é o desenvolvimento do indivíduo, corpo, espírito, mente, conhecimento, expressão, ou seja tudo em benéfico do próprio indivíduo e sua autonomia em sua integração construtiva com para toda a sociedade.
A educação forma a personalidade do indivíduo médio e o prepara para viver a cultura: é pela educação que a gênese da cultura se opera no indivíduo. Podese (Sic) descrever a cultura mostrando como o indivíduo duo a assimila e como nele se constitui, à medida que ele vai assimilando. Isto porque a educação é, ao mesmo tempo, uma instituição que o indivíduo encontra e o meio que ele tem para encontrar todas as instituições. (BRANDÃO, Carlos Rodrigues. 2012, p.23)
Dessa maneira, o que precede da educação formal é a relevância do processo educativo de fato que em si é empírico, natural e espontâneo dando como procedência o preparo para que o indivíduo possa viver sua cultura nacional. Stuart Hall em seu livro a identidade cultura na pós-modernidade escreve sobre a contribuição da cultura nacional.

A Formação de uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de alfabetização universais, generalizou uma única língua vernácula como o meio dominante de comunicação em toda a nação, criou uma cultura homogênea e manteve instituições culturais nacionais, como, por exemplo, um sistema educacional nacional[...] (2006, p.p. 49,50)

Desse modo, o sistema nacional educacional brasileiro ocorre por meio de uma união dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. As leis que regem o sistema educacional são: A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), instituída pela lei n° 9.394 de 20 de Dezembro de 1996.
A atual estrutura do sistema educacional regular no Brasil consiste na educação básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio – e a educação superior. Os municípios têm a função educacional de atuar no ensino fundamental e na educação infantil; já os Estados e o Distrito Federal são responsáveis pelo ensino fundamental e ensino médio. E o governo federal exerce uma função redistributiva e supletiva na educação, devendo prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como deve organizar o sistema de educação superior no país (Portal Educação, 2013)
A estrutura desse sistema tem como meta a democratização e universalização do conhecimento básico, que possa oferecer cuidado com a escolarização, com um caráter sistemático e intencional que ofereça uma atenção para o desenvolvimento intelectual. No entanto, essa estrutura apresenta problemas. Prova disso, é que o governo do Brasil centrou seus investimentos no ensino superior, e com isso negligenciou assistência ao fundamental e médio, em que sem dúvida alguma, esses deveriam ser a priorizados pelo governo por se tratar do primeiro contado do indivíduo com o conhecimento que formará sua base de conhecimentos futuros, para um possível ingresso em uma universidade.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, e considerando a meta de expansão da oferta de educação superior constante do item 4.3.1 do Plano Nacional de Educação, instituído pela Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001. § 1o O Programa tem como meta global a elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento e da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para dezoito, ao final de cinco anos, a contar do início de cada plano (Presidência da República, 2007)
Em 2007 o governo estabeleceu uma meta que tinha em vista a aprovação para o ingresso nas universidades estipulando um percentual de 90% dos estudantes concludentes do ensino médio, dois anos depois o governo admitiu que seu “plano” não tenha dado certo e estava comprometendo a qualidade da educação superior.
De acordo com um estudo promovido pelo Banco Mundial em 26 de outubro de 2006, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), publicou um relatório em que nele o Brasil estava na 72º posição dentre 125 países. Em 2014 a Organização para a cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) faz um relatório em que no ranking de 36 países o Brasil ocupa a penúltima colocação na frente apenas do México.
É importante ressaltar, que diante dessa situação o estudante não deve ser omisso, incumbindo-lhe diante de um fato como esse sair em defesa do seus direitos, cobrando das autoridades melhorias no sistema educacional brasileiro. Isso significa dizer que ele deve lutar pelo seu direito, pois o direito é além de tudo uma ideia pratica e só pode ser adquirido através da luta.
“O direito é uma idéia prática, isto é, designa um fim, e, como toda a idéia de tendência, é essencialmente dupla, porque contém em si uma antítese, o fim e o meio.” (Ihering, 2009, p. 22)
O Governo Federal disponibiliza auxílios de financiamentos para os estudantes que pretendem ingressar em uma universidade particular, um dos auxílios mais utilizados para esse ingresso é o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), toda via em dezembro de 2014 o FIES passou por implantações de novas regras para contratação, como por exemplo: alunos que obtiveram no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) média inferior a 450 pontos não poderá fazer a contratação do FIES o mesmo ocorre para os que tenha zerado a redação.
Em meio as dificuldades para contratação do financiamento destacam-se também o fato de que alguns estudantes que preenchem todos os requisitos para a contratação não conseguiram contratar, devido aos problemas que o site do FIES apresentou devido a uma suposta demanda no sistema. Devido a estes fatos alunos que preenchiam os requisitos para a contratação não conseguiram contratar, os que não tem condições de custear acabaram tendo que cancelar sua matricula nas universidades ocorrendo assim uma evasão.
De acordo com o Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro no 1º semestre de 2014 foram fechados cerca de 480 mil novos contratos, no mesmo período de 2015 apenas 252.442 contratações foram feitas. (MEC/FNDE)

CONCLUSÃO:
Concluo, que o atual governo está preocupado com números e não com qualidade, isso fica evidente na meta estabelecida pelo governo que visou apenas aumentar o número de ingressantes nas universidades e não qualidade, por conta disso, dois anos depois como já era de se prever o plano do governo não deu certo pois estava comprometendo a qualidade do ensino superior, ou seja se houve esse comprometimento da qualidade do ensino superior significa que os estudantes ingressaram e ainda ingressam sem o conhecimento adequado.
Apesar das implantações de novas regras em um dos programas mais utilizados para estudantes que não tem condições de custear seus estudos, os estudantes ainda ingressam sem uma base de educação adequada. Esse e os demais problemas aqui relatados só poderá serem resolvidos quando a sociedade cobrar o que lhe é de direito, uma educação de qualidade e o governo tratar do problema do ensino fundamental ao médio para que ao ingressar na universidade o aluno não passe por dificuldades por conta da falta de conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COULON, Alain. A condição de estudante: a entrada na vida universitária / Alain Coulon: tradução de: Georgina Gonçalves dos Santos, Sônia Maria Rocha Sampaio. – Salvador: EDUFBA, 2008.

TUROW, Scott. O primeiro ano – como se faz um advogado/ Scott Turow; tradução de A. B. Pinheiro de Lemos. – 9ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2008.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação popular/ Carlos Rodrigues Brandão – São Paulo: Brasiliense, 2012. 3ª reimpr. da 1ª. ed. de 2006.

HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós – Modernidade/ tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopez Louro – 11. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
IHERING, Rudolf von. A Luta pelo direito: a obra prima de cada autor.  1° ed., Martin clarete, 2009.
IHERING, Rudolf Von. A luta pelo Direito. Versão para eBook.Brasil.com. por Marcos Paulo R. Bassalo. Março 2009.

Educação Universal—Brasil 2. Educação Básica—Brasil 3. Desenvolvimento Educacional—Brasil 3. Avaliação Educacional—Brasil 4. Indicadores Educacionais—Brasil 5. Estatística Educacional--Brasil

http://veja.abril.com.br/blog/impavido-colosso/em-ranking-da-educacao-com-36-paises-brasil-fica-em-penultimo/

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